Frase do Dia!!

Toda iniciativa de boa fé, de mãos limpas, de peito aberto, deveria ser muito prestigiada. A vida é tão melhor coletivamente!

___________________Cláudia Dornelles


terça-feira, 25 de setembro de 2012

O primeiro sonho



Algumas pessoas superam as dores da vida facilmente, eu não. Tenho a mania de animal ruminante, gasto muito tempo a remoer as coisas e quando eu acho que estão deglutidas e esquecidas elas voltam a mim regurgitantes, insistentemente pedindo para serem mais uma vez relembradas, revolvidas, deixando aquele gosto amargo na boca, na vida...


Certas coisas dão um nó em mim, e me deixam com essa sensação de amargor, essa impotência diante da fatídica realidade da vida. Verdade é, que tudo tem fim, até o mais belo e fantástico dos sonhos - o primeiro sonho.


E mesmo que eu me permita sonhar de novo, não haverá de ser a mesma coisa, a mesma sensação, o mesmo sonho com os mesmos desejos. Haverá neste sonho um quê de realidade. Não será uma quimera.


Mesmo que eu queira haverá em mim uma ponta de tristeza pela certeza de que não será mais tão sublime, delicado e imerso em fantasias. Será o sonho criado em cima dos escombros que ficaram do primeiro sonho. Sempre haverá ali aquela lembrança. E nada será como antes.


Não haverá mais a leveza e a possibilidade de construir algo irreal, fantasticamente sonhado. Será sabível até onde se pode ir, o que será possível construir, sem mais esperanças de coisas maiores e impossíveis.


Tudo será ponderado, calculado, medido, já que se sabe o que esperar. Haverá sempre a certeza em lugar da possibilidade e a dúvida em lugar da confiabilidade. E a música irá se esvair pelos becos, como a água por entre os dedos.


E tudo não será apenas um eco do que já foi, sombra de uma árvore frondosa que nem existe mais. Ecos de risos, brisas e felicidade que passaram como uma ventania fulminante que tudo levou. Árvore com um balanço, na qual se viam gravadas letras em um coração.


Árvore que foi arrancada pelo vendaval de agonia. Morreu e foi lançada ao fogo, restando apenas suas cinzas que o vento carregou sem destino, não sei para onde. De antes, marcando o lugar em que estava, resta apenas as cicatrizes que as suas raízes deixaram na terra. Pobre terra, marcada para sempre!


E mesmo que se plante uma nova árvore ali, vai demorar muito tempo para que ela cresça, e mesmo assim não será igual a outra. A lembrança saudosa a transformará em um fantasma imortalmente belo, maior e mais forte. E haverá então a sensação de que nada, nunca será igual.


O sonho será sempre outro, reconstruído como às pressas, sem esmero e dedicação. Afinal já se conhece o cenário, o começo, o meio, e principalmente, o fim. Só o que muda é o protagonista, a história sempre será parecida.


Então porque se deixar levar às profundezas, se quanto mais fundo, mais cicatrizes ficarão na terra, e mais próximo das primeiras marcas se chegará, fazendo-as doer novamente pela lembrança.


Se é para se construir sob escombros que seja um sonho menos sonhado. Que se tenha em mente a realidade invariável, inflexível e inevitável da vida – tudo tem início, meio e fim. Sem mais quimeras.

                                                                             
 Divania Rodrigues

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