Estou vivendo sempre o mesmo dia sem fim. A mesma coisa todo dia: nada. Eis a minha história: nenhuma. Amanheço, acordo, durmo, acordo, durmo, almoço, durmo, acordo, sonho, ouço música, durmo, leio, como, assisto TV, como, anoiteço, sonho, durmo, sonho...
No outro dia tudo igual, tudo se repete sem se renovar, a não ser que por acaso eu troque o livro de aventura, ou a aventura do sonho, ou o artista do cd. Um círculo perfeito, um círculo vicioso, um zero perfeito, um zero a esquerda sem nada a acrescentar.
E o que fazer pra sair disso? Nada vem a mente, é tudo sempre o mesmo dia sem fim, sem começo. Sem planos, a não ser os mirabolantes e os que a loucura insólita produz. Sem início, sem fim, sem passado, sem futuro. Vivendo um dia de cada vez. Um dia sem glória, perdido no espaço contínuo, no tempo perdido. Um dia maçante, cansativo em sua improdutividade rotineira.
Um dia, um dia inteiro, vinte quatro horas, mil quatrocentos e quarenta minutos, oitenta e seis mil e quatrocentos segundos pra nada. Vazio. Zero. Nada. Perdida.
Mas não, não, isso não é uma posição confortável, não. Saber como serão suas próximas horas é angustiante. Melodramático. Sabe-se como será o dia seguinte, mas o futuro é incerto, desconhecido. Mudar isso é como mudar uma pedra de lugar.
Uma pedra é constante, sua vida de pedra é assim, um dia de cada vez, sempre o mesmo dia sem fim. Intacta, sem mudança, sem destino, imóvel, imortal. Sem esperar que nada aconteça. Para alterar o ciclo vicioso da vida da pedra é preciso que algum fenômeno inesperado, já que a pedra não espera nada – bom talvez ela sonhe com algo, quem sabe? – aconteça. Talvez aconteça que uma criança pegue-a na mão e como brincadeira atire-a ao rio, fazendo-a pular algumas vezes sob a superfície espelhada da água antes de naufragar e pousa suavemente no fundo da água.
E aí a pedra que nada esperava, sentiu o calor da mão da criança e de repente estava voando, sentindo o ar ao seu redor, e flutuou sobre a água deixando marcar por onde passava. E depois sentiu sensação da água gelada a envolvendo, e foi caindo, mas não depressa como se cai no ar, foi mais como uma dança. Isso! Ela caiu dançando e quando alcançou o fundo do rio a sua vida não era mais a mesma. Imaginem o fundo do rio! E a correnteza fazia de sua vida diferente a cada dia.
Esperando o dia em que algo aconteça... com medo de estar esperando muito.
Divania Rodrigues